Provérbio Brasilerês
Por um povo mais justo
Um português mais bem dizido
Uma urna que caiba no coração de cada um e um pão que encha o bucho
Um português mais bem dizido
Uma urna que caiba no coração de cada um e um pão que encha o bucho
Eu tenho muitas estradas em mim, sou brasileiro e carrego um orgulho patético de ter nascido em uma terra de exuberantes belezas naturais e culturais mas infelizmente revestida com as ataduras de uma pseudo democracia social e política. Apesar de tudo, no peito levo um manifesto de liberdade. Eu tenho muitas palavras na garganta dando nós, atados e cegos, dependuradas nos arranha-céus da alma inquieta e inconformada. É gente amarrada em posta, bandido bancando de bonzinho, ladrões de toga, terno e chifres. Pulso erguido, lá vai mais um preso político em tempos de paz e honestidade. Ainda assim, há guerras que exterminam cidades, há canções que dilaceram o medo, há palavras que acertam em cheio o sentimento preso no peito e o liberta. Uma frase, um provérbio, um grito de alivio? As armas estão sendo postas sobre a mesa. Talvez esteja na hora de dizer o que penso. Falar o que sinto.
Amar o próximo como a ti mesmo, ainda que ele seja um político engravatado que faz de Brasília uma cidade-covil. Você ouviu bem, um covil. A cidade sem esquina e semáforos é, na verdade, também a toca de bandidos fardados, vestidos com as maiores grifes igualmente salafrárias e se esbaldando no dinheiro público que é só dele e não dos escravos do IR. O povo lá, sem casa, carro do ano, sem comida, sem seringas, tendo que se matar de trabalhar em uma jornada pouco regulamentada pela nossa linda lei infraconstitucional. O nosso amigo é político, colega, patrão. Ele não é servo, mas chefe, dono dessa terra de ninguém que chamam orgulhosamente nos cânticos de ”Pátria Amada”, ”Mãe Gentil”, ”Florão da América”. ”Terraço da América”, quintal dos EUA, mais recentemente, ”Lote de Cuba”. Uma bebezona deitada em berço esplêndido enquanto os seus pais esbanjam vitórias que só existem na cabeça dos ignorantes e comprados com sacas de cimento e próteses dentárias, quando não, são comprados por notas recém saídas da casa da moeda. Malas de dinheiro caem de aviões e do sétimo andar. Vendem seus direitos, nossos direitos, ou os trocam por deveres e obrigações. ´É o povo que vive de comer os próprios dejetos, fazer piada de coisa séria e armar circos, com palhaço e tudo, no congresso nacional. Pasmem, esse mesmo povo ainda se manifesta. Verdade, não brinco com isso, esse povo ainda vai nas ruas e picha os muros pedindo ordem. Vi mais de uma vez picharem o símbolo da anarquia enquanto gritam palavras de ”ordem”. Pedem justiça, segurança, paz, educação, saúde e comida. Escrevem um ”A” dentro de um círculo e mesmo assim pedem a moralização do país. Ordem dentro do caos, caos dentro da ordem, aí meu pensamento, que já não gira bem, dá voltas e voltas em torno de si mesmo. Eu fico tonto com o gás lacrimogênio que a polícia mal preparada joga nos manifestantes, sejam eles pacíficos ou não.
País, meu país, aonde está vossa graça, grandeza e exuberância?
Lá pelas praias do Norte ainda tem paz. Ainda tem gente vendendo coquinho verde a preços populares. Ainda não chegou por lá a tal da extorsão. Poucas cidades serão vítimas da copa. Bendigam o Norte, terra de gente de paz. Terra dos coronéis, majores e sertanejos sofridos que a TV faz questão de elucidar. Fiquem sabendo que não se pode acreditar em tudo que passa lá na banquinha do jornal. O ”boa noite” também já está no roteiro. Das novelas nem falo, aquele sotaquezinho puxado já passa a impressão errada e cria os pobrezinhos de cabeça chata pisando em chão rachado. Esteriótipos. A ignorância é grande e a falta de vontade de conhecer também. Não culpo a TV, não culpo o governo, culpo a história do nosso país que foi recheada de subterfúgios e safadezas política e sociais.
Perguntaram um dia, parado no sinal, nesse trânsito infernal, o que acho do meu país. Está aí a resposta, mas vou além.
No mesmo dia abri um biscoito chinês. É, um daqueles trocinhos inventados pelos capitalistas para ganhar um dinheirinho extra. Li tudo, refleti um pouco, anotei os números para jogar na mega sena. ”Se o problema tem solução, não esquente a cabeça, porque tem solução. Se o problema não tem solução, não esquente a cabeça, porque não tem solução”. Receio, meus caros, que o problema do Brasil não é nem um, nem outro. É o tipo de coisa que tem solução e também não tem. A questão é que ainda não fiquei satisfeito e tentei ir além. Só tentei. Não deve ser tão difícil colocar um provérbio dentro do biscoito para que ele signifique algo. Minha vez, a vez do Brasil.
Lá vai, o primeiro e único ”Provérbio Brasilerês”
”Um país melhor se faz com atitudes positivas, votos conscientes e pessoas coerentes. Comece fazendo um pouco pela sua cidade, mais pelo seu Estado e o inimaginável pelo bem de seu país. Aí sim, terá educação, saúde, paz, segurança e vida feliz. Tirem os capuzes, as roupas pretas e a tinta suja das mãos. Vandalizar não é o caminho, construir é o que devemos, queremos e podemos.”
Até serviria de alguma coisa, mas eu sei que a pessoa que abrir esse biscoitinho não vai nem ler coisa alguma, mas sim anotar logo os números da mega sena. Tentar ser rico. Pois o importante, nessa onda de protestos, é lutar pelo seu lugar ao sol.
Demagogia e mais demagogos, sempre com o mesmo blá, blá, blá.
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